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8 de junho de 2010

O VINIL É UM BOM NEGÓCIO

Da Revista Epoca:

Os lançamentos de LPs têm esquentado o mercado nos Estados Unidos e na Europa. Saiba por que o vinil ainda tem seu espaço
 
  
Depois de virar moda, os LPs voltaram também a ser um bom negócio para as gravadoras. Os lançamentos de discos de vinil têm esquentado o mercado nos Estados Unidos e na Europa – do rock alternativo do Radiohead ao pop de Lady Gaga. Só no ano passado foram 2,8 milhões de LPs vendidos, segundo a Nielsen SoundScan. É o melhor desempenho do mercado de discos desde 1991. O vendedor de uma feira de São Paulo, Sergio Vieira da Cunha, que há 22 anos garimpa e revende preciosidades em vinil, diz: “Nunca acreditei no fim do vinil. Sempre gostei do que fiz”, sem revelar seu faturamento.
 
De olho nesse reaquecimento, a gravadora DeckDisk reabriu a Polysom, única fábrica de vinil da América Latina, fechada desde 2007. Já foram lançados por lá quatro álbuns, das cantoras Pitty e Fernanda Takai e das bandas Nação Zumbi e Cachorro Grande. João Augusto, o novo proprietário da Polysom, anda pelo prédio da empresa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, visivelmente orgulhoso. Com um LP da banda Cachorro Grande nas mãos, ele afirma, sem modéstia: “Isso aqui é um disco perfeito. Não pula, é bem cortado, comparável ao melhor que estão fazendo lá fora”. O maquinário é quase o mesmo que ele encontrou quando entrou na fábrica pela primeira vez, em 2008. Os funcionários foram localizados por telefone. A maioria já tinha outro emprego ou estava aposentada.
  
Newton José Rocha, de 62 anos, é o mecânico de manutenção da fábrica, o mesmo posto que ele ocupou por 40 anos. Mas voltou à antiga posição depois de uma enorme aventura. Em 1999, disposto a garantir uma aposentadoria com o mercado que ainda havia para os bolachões, ele recuperou três máquinas de prensar vinil e reabriu a fábrica para aproveitar o mercado que ainda existia, de material evangélico. “Prensávamos 100 mil cópias por mês, até o mercado esfriar de vez”, afirma Newton. Isso foi em 2007. Agora ele está de volta ao trabalho, chamado por João Augusto. A Polysom prepara a prensagem em vinil de Rock n’ roll, de Erasmo Carlos, o projeto Pequeno cidadão, de Arnaldo Antunes e sua turma, e títulos antigos, como A tábua de esmeralda e África Brasil, de Jorge Ben Jor.
 
Ainda não há nenhuma estatística atual de vendas no Brasil, mas Rodrigo de Castro, responsável pela compra de CDs, DVDs e LPs da Livraria Cultura, revela que houve um aumento de 500% nas vendas de LP entre 2007 e 2008. “O número impressiona, mas ainda é tímido. Hoje, a venda de discos corresponde a 3% do faturamento da área de música da livraria”, diz. Atualmente, estão à disposição na livraria cerca de 2 mil títulos, sendo a maior parte de discos importados. Por enquanto.
 
2,8 milhões é o número de discos de vinil vendidos nos EUA em 2009, o melhor resultado desde 1991

No afã de explicar o fenômeno, uma palavra é repetida por analistas e aficionados: fetiche. A atração pela mídia anacrônica seria fruto do apego a coisas como o barulho da poeira na agulha, as capas grandes, tratadas como obra de arte, e até o charme de manusear a agulha da vitrola por meio da superfície sulcada do vinil. Um defensor do movimento é o músico Jack White. Há alguns dias, ele apresentou ao vivo na internet o álbum Sea of cowards, o segundo de sua banda, The Dead Weather, de forma “analógica”: apontou uma câmera para a vitrola em que estava tocando o novo trabalho. “Tentamos unir os dois mundos”, disse ele ao jornal The New York Times. “E chamar a atenção para o fato de que o vinil é o único produto que cresce em vendas. Esta geração precisa estar ligada ao lado tangível da música. Quero envolver os adolescentes de um modo real.”
 
A grande diferença dos LPs em relação ao CD e ao MP3 está na sonoridade. Em tese, o suporte do CD reproduz o mesmo som captado de forma analógica pela agulha nos sulcos do vinil. Mas, segundo o engenheiro de áudio Sólon do Valle, o mercado priorizou o volume em detrimento da precisão que a masterização digital poderia proporcionar. “Compactaram as frequências altas e baixas das canções, dando prioridade às ondas médias”, afirma. “As canções em um CD foram achatadas, e a qualidade prejudicada.”
 
Há também uma explicação técnica para o som especial dos discos de vinil. “O vinil tem distorção, provocada pelo processo mecânico de captação de som, numa escala que pode chegar a 1%. Mas é um ruído que torna o som mais agradável aos ouvidos. É o que dá ‘charme’”, afirma Valle.
 
Quando o assunto é MP3, a diferença é ainda maior. Trata-se de uma compressão do já comprimido arquivo WAV, dos CDs. A revolução que a música digital provocou não foi sonora, mas de acesso e mobilidade. O músico Ed Motta tem uma coleção de 30 mil LPs e, ao mesmo tempo, seis iPods de 160 gigabytes lotados cada um deles com cerca de 40 mil canções. “Antigamente eu viajava com malas de fitas cassete. Hoje tenho toda a minha discoteca no bolso. Claro que em menor qualidade”, afirma Motta. Há quem ache essa discussão irrelevante, como o produtor musical Dudu Marote. “Lembro dessa mesma polêmica quando o CD foi lançado. Todos diziam que o som era bem melhor do que o do vinil".
  
POR QUE O VINIL AINDA TEM ESPAÇO


Entre a morte dos CDs e o império da música digital via internet, o crescimento nas vendas de LPs é mais do que mera nostalgia:



VINIL
Os discos de vinil, se bem cortados e tocados em um bom aparelho, têm o som orgânico, com o charme de uma distorção que chega a 1%.
Pontos positivos: Exige uma experiência íntima com a música, já que não dá para escutar no carro ou andando de metrô
Pontos negativos: A falta de mobilidade, a demanda de cuidado e bastante espaço para guardar a coleção
  


CD
O CD, como suporte, tem condições de reproduzir o som com alta fidelidade. E não tem ruídos provocados pela reprodução analógica. Na teoria, o som seria mais limpo.
Pontos positivos: A opção une os benefícios da mobilidade e da qualidade de som, não tão comprimido como no MP3
Pontos negativos: O som é compactado nas gravações em CD para ganhar em volume. Perde nuances.
 
MP3
É o formato que tornou possível reunir todo seu acervo de música no bolso da calça. Como isso não é um milagre, a qualidade do som acaba um pouco prejudicada.
Pontos positivos: Quem precisa ouvir um som límpido e perfeito quando está andando de ônibus ou fazendo pilates?
Pontos negativos: Quando você para e presta atenção no som, quase sempre percebe o que está perdendo pela praticidade
 

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